--- Frase de Agora! ---
"A água é para os escolhidos
Mas como podemos esperar que sejamos nós..
... eu e você?"

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Destaque da Semana: Onde está o sol que estava aqui?
Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo rural

sábado, 15 de agosto de 2015

Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo urbano

Em uma região que falta água pra beber, ar pra respirar e solo pra se plantar, morar e se deslocar esse texto vem incendiar o blog que há tempos não era atualizado.

Será que é mesmo só amor que não existe em SP?

Boa leitura.

@alvarodiogo
Numa eterna reflexão de amor e ódio sobre SP

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Ladrões de sol, crise hídrica e êxodo urbano

Por Ariovaldo Nuvolari¹

Estamos no inverno e tivemos 4 dias de chuva e frio. De repente, que beleza, um dia de sol. Gosto do inverno, mas só daqueles dias de sol, nos quais, posso andar tranquilamente pelas ruas do meu bairro, nas minhas horas de folga, me aquecendo e olhando as novidades. Pra mim, os dias de chuva e frio são tristes, porém, como estamos precisando de muita chuva, devemos agradecer a Deus, por ter se lembrado de nós. Que remédio ...

Eu já estou com 65 anos de idade, aposentado há dois anos, porém continuo trabalhando, não tanto quanto antes, mas continuo, porque após 42 anos de contribuição para o INSS, ainda não consigo viver com o salário que me pagam, em parte por causa do plano de saúde que está cada vez mais caro e subindo sempre acima da inflação. Quem se preocupa com isso ? Quem fiscaliza ? Parece que ninguém.

Mas, voltando a comentar o meu passeio pelo bairro, percebi que, nos últimos tempos, há muita novidade por aqui. Casas construídas na década de 1950-1970 estão sendo derrubadas, para construção de novos prédios, num ritmo alucinante e numa ganância muito grande dos empresários do setor. Com tanta construção no bairro, a caminhada já não é tão agradável como antes; as calçadas e ruas estão esburacadas, montes de areia e de terra, cocô de cachorro, lama e restos de concreto. Os caminhões que transportam terra escavada saem derrubando a terra e sujando as ruas do bairro, gerando pó em dias secos e lama quando chove. Já flagrei motoristas lavando os seus caminhões de concreto no meio fio e jogando os restos na sarjeta. Quem se preocupa com isso ? Quem fiscaliza ? Parece que ninguém. Tais sujeitos fazem o que querem e ninguém diz ou faz nada.

Passando por um desses locais, eu me espantei e me perguntei: Nossa ! A casa que aqui existia era tão bonita, bem cuidada, com jardins, flores e agora se resume a esse amontoado de entulhos; para onde será que foram essas pessoas ?  Para onde está sendo levado tanto entulho ? Fiquei sabendo que, usando terrenos de 10mx50m, um sujeito está construindo, só no bairro em que moro, 8 prédios exatamente iguais: 2 andares, 12 apartamentos de 40 m² cada; a meu ver um verdadeiro sarcófago (sem iluminação e ventilação adequadas). Mas quem se preocupa com isso ? Quem aprova tais projetos ? Parece que ninguém.

Godzilla x Especulação Imobiliária
Fonte: Mercado Popular
Continuo a minha caminhada, passo numa determinada rua e de repente fico ainda mais triste; a maior parte das casas daquele quarteirão está à venda, e então eu me faço a seguinte pergunta: por que será ? Logo percebo o motivo; do outro lado da rua, em frente delas, lá estão 3 torres de um novo condomínio residencial. Taí a razão; roubaram-lhes o sol. Caramba ! Mas o sol não nasceu pra todos ? Sim, mas para os moradores dessas casas, não mais. Principalmente no inverno terão que conviver com o frio e o cheiro de mofo.

Desculpe-me o eventual leitor, mas hoje estou mais chato do que de costume e cheio de perguntas: será que as redes elétricas, redes de água e de esgoto serão suficientes para mudanças tão bruscas ? Será que as ruas estreitas comportarão tantos carros entrando e saindo ? Afinal de contas, num só local onde antes havia 3 ou 4 casas, nas quais moravam no máximo 20 pessoas, agora temos três edifícios com 20 andares cada um, e 4 apartamentos por andar. Faço as contas e constato; puxa vida ! agora são 80 apartamentos em cada edifício,  e um total de 240 apartamentos, onde passarão a viver cerca de 1.000 pessoas, e naquele mesmo espaço. E a tão decantada “qualidade de vida”, onde é que fica ? Quem se preocupa com isso ? Quem aprova tais projetos ? O plano diretor, se é que ele existe, está sendo cumprido ? Quem fiscaliza isso ? Parece que ninguém.

Verticalização e o preço da especulação imobiliária
Fonte: Belém Debates
À noite chego em casa e minha filha me liga desesperada, dizendo: Pai, acabei de chegar do serviço, fui tomar banho, mas acabou a água, o que é que eu faço ? Bingo ! Tais transtornos já eram esperados, e apenas começaram. Ela mora num prédio de 2 andares e, neste caso, a pressão da água deveria vencer, no mínimo 15 metros de altura para chegar à caixa d’água que fica na laje superior. Como os prédios maiores tem caixa d´água inferior, isto é, recebem a água nas suas caixas situadas nos subsolos para depois fazer o bombeamento para a caixa d´água superior, conclui-se que os prédios maiores vão receber a água, já as casas térreas, sobrados e os prédios menores ficarão sem ela, pois a pressão passou a não ser suficiente para a demanda. Quem está preocupado com isso ? Acho que ninguém. E nesse ritmo, que belo cenário para o futuro.

Ligo a TV e sou informado pela repórter que o nível do Sistema Cantareira, que era responsável por produzir 33.000 litros de água por segundo é só de 19,6% já considerando o volume morto. Que o nível do Alto Tietê era de 28% e assim por diante. Um cenário nada animador. Eu me lembrei que há pouco tempo atrás um colega de trabalho (sou professor na área de saneamento e meio ambiente) me convidou para um desses debates sobre a crise hídrica. Naquela época eu disse a ele: eu não vou participar porque nem sei o que dizer; já que a busca de novos mananciais está cada vez mais difícil; a água necessária para abastecer os quase 22 milhões de pessoas da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) não está tão próxima da capital. Como então aumentar a produção com tantas limitações ?

Situação atual do sistema Cantareira: -12%
Fonte: Mananciais.tk
Comecei então a pensar no assunto. O que fazer ? Por um lado a população aumentando dia a dia em ritmo acelerado, necessitando cada vez mais água. Por outro, os mananciais mais próximos e que já estão sendo utilizados, continuam os mesmos e ainda por cima passamos a conviver com esse período de baixas precipitações nas bacias que alimentam esses mananciais, ou seja, a situação é bastante crítica e só tende a piorar ainda mais.

Fui buscar alento na Bíblia Sagrada, livro esse do qual sou leitor assíduo. Pensei comigo: o Criador deve ter a solução. Eu me deparei então com um texto registrado no livro de Gênesis 1.27 e 28, que diz: E criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra ...

Eu fiquei meditando sobre esse texto e pensei: bom, o homem obedeceu a Deus quando frutificou, multiplicou (somos mais de 7 bilhões em toda a terra), mas logo me lembrei também que; quando o homem quis construir a torre de Babel (ver Gênesis 11.4), Deus não se agradou disso, confundiu as línguas e os fez parar com aquele projeto. Deus realmente quer que enchamos a terra, usando os seus espaços e não nos aglomerando num só local. A aglomeração não faz bem. Quanto se gasta com mobilidade urbana ? Quanto tempo em média leva o trabalhador da sua casa ao serviço e vice-versa ? Quanto tempo e dinheiro se gasta no trânsito ? Porém, nós teimosamente nos acotovelamos nas cidades, desobedecendo às ordens divinas. E é claro que estou me incluindo entre os rebeldes.
Mas, você leitor, deve estar pensando: o que fazer então, seria correto proibir as pessoas de morar nas cidades ? Os mais afoitos vão dizer: isso não é democrático. Realmente não é, concordo, mas alguma coisa precisa ser feita. Porque não incentivar aqueles que querem outro tipo de vida, a sair das cidades. Temos visto tantos protestos em busca de moradias, terras, etc, sempre atrapalhando o trânsito e complicando a vida dos demais cidadãos; e sempre também sem uma resposta adequada das autoridades; que me parecem perdidas em meio a tantos problemas. Acho que cada cidade deveria estudar e fixar qual a população em que ela poderia ser considerada sustentável. Eu acho que as grandes cidades não são sustentáveis. Posso garantir que a RMSP não é sustentável.   No caso do esgoto sanitário, você sabia  que hoje são tratados menos de 45% dos esgotos coletados e nem todo esgoto é coletado ?  E o pior é que,  mesmo que num passe de mágica, conseguíssemos coletar e tratar todo o esgoto gerado, ao nível atual de 90% de remoção da carga orgânica, ainda assim mataríamos os rios que cortam nossa cidade, pois os 10% de carga orgânica restantes são suficientes para deixá-lo com concentração zero de oxigênio dissolvido. Sem contar as questões: da já citada falta d´água, do lixo, do trânsito, da poluição do ar. A concentração de população nas cidades grandes já é absurda e só tende a piorar com o crescimento populacional. Alguma coisa tem que ser feita, estamos perto ou dentro do caos.

Rio Tietê: pouca água, muito esgoto
Fonte: Envolverde
Garanto também que muita gente não sai das cidades por pura falta de opção. No entanto, se tivéssemos um projeto ao nível dos governos: federal, estadual e municipal, envolvendo cabeças pensantes das universidades, além de empresários que se dispusessem a participar desse projeto, contanto que houvesse um sério respaldo político, administrativo, financeiro e técnico.

E que tipo de projeto poderia ser ? Eu pensei em algo como Agrovilas, espalhadas por todo país; nas quais houvesse a preocupação de se plantar, de acordo com a vocação agrícola local, amparada tecnicamente por órgãos tipo EMBRAPA, a nível federal, secretarias de agricultura, etc. Além disso, que a essa produção agrícola fosse agregado valor, através de industrialização no próprio local. Parte da população que aderisse ao programa, se dispondo a deixar as cidades, poderia trabalhar meio período na indústria, e meio período na sua propriedade agrícola. Outra parte da família ficaria apenas na produção agrícola, de modo que, em cada família sempre houvesse quem trabalhasse tanto na indústria quanto na produção agrícola, mantendo um razoável nível de vida.

População urbana e rual no Brasil de 1940 a 2010
Fonte: Mundo Agrário
Claro que tudo isso precisaria ser melhor pensado, mas acredito nessa fórmula e penso que poderia dar certo se todos os envolvidos no projeto trabalhassem em prol do sucesso de todos e que gente idônea fosse encarregada do gerenciamento desses projetos. Com isso, de forma voluntária, poderíamos incentivar a volta ao campo e cada vez mais ir diminuindo a população das cidades a níveis aceitáveis. Seria o reverso do êxodo rural, uma espécie de êxodo urbano.

EU JÁ ESTOU VELHO, CANSADO, MAS PREOCUPADO: QUEM PUDER QUE FAÇA ALGUMA COISA.
E OBRIGADO SE VOCÊ TEVE PACIÊNCIA DE LER ESSE MANIFESTO ATÉ O FIM...

¹ARIOVALDO NUVOLARI
Cidadão andreense - professor universitário
Mestre e doutor em Recursos Hídricos e Saneamento pela UNICAMP
nuvolari@fatecsp.br

2 comentários:

Paulo Fonda disse...

Roubaram o Sol. deixa Lua de fora disso!

Clipping Path Service disse...


Thanks for sharing, this is a fantastic blog post.

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